quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A OUTRA FACE

Não sei se vocês sabem que o jornal da Santa Sé L’Osservatore Romano informou que a Igreja Católica me perdoou por ter declarado que os Beatles eram mais populares do que Jesus Cristo. O artigo me absolve dizendo que “A declaração de John Lennon, que provocou tanta indignação nos Estados Unidos, depois de todos estes anos soa como uma bravata de um jovem proletário inglês às voltas com um sucesso inesperado”. O texto ainda saúda os 40 anos do álbum branco: “O fato é que 38 anos após o rompimento, as canções de John Lennon e Paul McCartney mostraram uma extraordinária resistência à passagem do tempo, tornando-se uma fonte de inspiração para mais de uma geração de músicos pop”, afirmou o jornal. Primeiro, quero dizer que estou preocupado com a repercussão negativa que isso pode ter sobre as vendas do álbum branco. As conseqüências podem ser piores do que as provocadas pela crise global. Mas o aspecto comercial não é o mais importante. O perdão me comoveu sinceramente. Vi que eu sou um cara de sorte. O Galileu Galilei, por exemplo, com todo o prestígio de um dos maiores cientistas da humanidade, teve que esperar mais de três séculos para ser absolvido pela Igreja Católica. Não imaginava que isso fosse possível – e olhe que eu já imaginei cada coisa difícil de acontecer. Fiz até uma canção sobre isso. Aliás, eu poderia dizer que essa canção é mais famosa que Ave-Maria, mas não vou dar essa declaração. Chega de polêmica. Bom, como ia dizendo, meu coração se encheu de alegria. Por instantes, pensei até que o sonho não tinha acabado. Tive instintos de fazer uma nova canção. Depois, refleti bem e entendi que o melhor era vir aqui e retribuir o gesto. Não sou candidato a santo, apesar de que muitos queiram me ver como tal. Mas creio que minha obrigação é ser ainda mais generoso do que foram comigo. Portanto, perdoarei mais que uma simples declaração. Perdoarei atos e conseqüências. Vamos à lista:
Eu perdôo as cruzadas. A inquisição. Perdôo por terem queimado vivo Giordano Bruno, por terem perseguido Galileu. Levo na boa o genocídio dos índios nas Américas. Perdôo pela omissão sobre os horrores do holocausto na II Guerra, mesmo tendo conhecimento sobre o mesmo.
Quanto ao encobrimento dos abusos dos padres pedófilos, contra a proibição dos casamentos entre homossexuais, contra os métodos contraceptivos (principalmente a camisinha) e suas conseqüências na geração desigualdade, pobreza e doenças e as músicas do Padre Marcelo, eu só me manifestarei quando o L’Osservatore Romano elogiar o Sargent Pepper.